Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio

 


 

Das Denúncias Contra a Cirurgia Cardíaca

 

O médico cardiologista Quintiliano H. de Mesquita, Diretor do Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio no período de 1999-2000, também comentou quanto ao abuso da cirurgia de ponte de safena, em seus livros “Como Escapar da Ponte de Safena e do Enfarte do Miocardio Só Com Remédio” de 1991 e “Remédio Boicotado Substitui a  Cirurgia da Ponte de Safena” de 1996, dos quais retiramos os seguintes trechos:

 

“A conduta atual da cardiologia frente a coronariopatia crônica tem sido voltada para a imediata avaliação de cada caso no sentido da escolha dos casos elegíveis para a cirurgia de ponte de safena, atitude de pescaria ou caça para o cirurgião, contrariando os princípios básicos da prática médica, como se o apelo ao tratamento cirúrgico representasse a única opção para livra-lo do enfarte, apresentado geral e intencionalmente como iminente e obrigatório, ficando os casos não elegíveis e pouco propícios ao bom êxito cirúrgico, fadados ao prognóstico reservado e por isso entregues ao tratamento clínico, a fim de que não sirvam para deslustrar as estatísticas da cirurgia tida como salvadora e heróica. A nosso ver, tal atitude no momento atual e que vem marcando mais de vinte anos dessa prática cirúrgica, quer nos parecer um estado de pouca exigência para o bem estar e o futuro de cada paciente novo, mormente quando já se tem uma conclusão prática sobre a experiência levada a efeito até agora, indicando que não se trata de uma cirurgia radical, como acontece nos demais departamentos da Cirurgia geral, assumindo o caráter de uma cirurgia paliativa, de repetição e competição com a Clínica, que já dispõe de terapêutica especifica, ao lado dos efeitos magníficos de auto-revascularização miocárdica, representada pela colateralização da rede coronária e de real importância na prevenção do enfarte e demais complicações".

 

"A orientação seguida, levando-se à mesa de operação milhares de novos pacientes para a implantação de ponte de safena ou implante de mamária, em mistura com outros milhares de casos que se repetem no ato cirúrgico pela segunda, terceira ou quarta vez, dão-nos conta da pobreza de tais recursos terapêuticos impostos pela prática de uma Cirurgia que não atingiu a sua finalidade e cujos resultados reduzem a sua importância a uma condição de que a sua indicação excessivamente dirigida, já chega à irresponsabilidade e até a má fé por parte daqueles que continuam acreditando em “milagres” dessa Cirurgia, a despeito de insuspeitos trabalhos cujas conclusões revelam:

- Alívio em curto prazo dos processos anginosos tidos como resistentes ao tratamento medicamentoso – efeito placebo – mas com recrudescimento sintomático a médio e longo prazo.

- Não tem evitado o enfarte do miocárdio.

- Não tem evitado a insuficiência cardíaca.

- Não tem evitado a morte súbita.

- Não tem aumentado a duração de sobrevida.

- Método de tratamento paliativo e competitivo com a Clínica apesar de ser associado com excessiva carga de medicamentos.

 

Como se vê, a escolha de método cirúrgico para o coronário crônico estável ou de grau mais avançado como opção terapêutica, é calcada numa deformação dos critérios da prática médica, pois não se tem levado em conta os resultados do método em longo prazo e na prevenção das complicações mais comuns assinaladas; ignorando os excepcionais resultados com a terapêutica clínica representada pela associação do cardiotônico + dilatador coronário.

 

O cardiologista que pauta a sua conduta como fornecedor de casos clínicos, bem escolhidos, para uma cirurgia que não se coaduna com os consagrados ditames de uma cirurgia radical que resolve de vez os problemas, quando a clínica vem atendendo suficiente e eficazmente, demonstra pouca sensatez e lucidez e nenhuma exigência para os resultados que devem beneficiar seus pacientes, colaborando assim para a perpetuação de uma cirurgia embora bem elaborada, mas cujos resultados são precários a médio e longo prazo e que já deveria ter sido proscrita.

 

A cirurgia de ponte de safena não é um método cirúrgico digno de confiança absoluta, porque não é uma prática definitiva e apresenta-se como um processo repetitivo para correção do insucesso de ato anterior e competitivo com a clínica; além do mais impõe uma condição fisiopatológica, alterando o mecanismo fisiológico, quando submete a circulação coronária receptora do implante à pressão sistólica central, diretamente da aorta e no momento da sístole ventricular, com impacto ou choque tensional na fase pré-diastólica, parecendo justificar o mecanismo da aceleração do processo aterosclerótico da coronária em que se acha implantada a veia safena, provável conseqüência da relativa hiperpressão arterial sobre vaso despreparado para o regime pressórico sistólico, ao invés da pressão diastólica a que se destina. Além do mais, em muitos casos dessa cirurgia, é possível que os segmentos miocárdicos revascularizados não se achem mais em condições de reperfusão miocárdica, não atendendo portanto às exigências do quadro clínico.

 

A cirurgia de ponte de safena, sempre olhada por nós como uma aberração fisiológica, em que se interpõe um segmento venoso frágil e despreparado para suportar a pressão arterial central, passa a sofrer transformações estruturais a partir do momento do implante e pode atingir obstrução fibrótica total em tempo tão rápido como de até duas semanas, levando tempo variável nos demais casos e impondo a repetição do mesmo ato operatório de duas a quatro vezes para uma sobrevida de dez a doze anos, quando chega a tanto. Além disso, o aspecto antifisiológico marcante é a transformação do regime de circulação coronária, de diastólico para sistólico, relativamente hipertensivo para a estrutura da parede coronária e que deve acarretar efeito esclerosante ou fibrosante.

 

N prática, o efeito de alívio registrado em curto prazo nos casos de angina do peito resistente, pode ser interpretado como semelhante ao efeito placebo; observado também na Clínica e dependente da relação Médico/Paciente, quando a segurança, a esperança e a confiança surtem efeitos psicossomáticos que produzem até evolução assintomática com o emprego de simples placebo. Também no pós-operatório de ponte de safena, com grandes razões apresentadas pelo envolvimento do paciente que sobrevive à prática de cirurgia de grande porte, torna-se assintomático por dois a três anos, até que essa cobertura providencial sobre o seu estado psicossomático perde o seu efeito e nota-se o retorno à angina de esforço e provocada por emoções, a despeito de manter-se a ponte de safena pérvia."

 

"Os cardiologistas clínicos da atualidade esqueceram-se da experiência clínica do passado e acham-se engajados na experimentação no homem com a cirurgia de ponte de safena e implante de mamária e a meio caminho com a angioplastia transluminal, voltados inteiramente para municiar as clínicas cirúrgicas para a prática de uma cirurgia que na verdade não conseguiu evitar o enfarte, a insuficiência cardíaca e a morte súbita, nem prolongar o tempo de sobrevida, a despeito das repetidas cirurgias praticadas em um mesmo paciente; baseados em conjecturas falsas e resultados manipulados que deveriam ser apurados de maneira mais criteriosa e com absoluta isenção de ânimo do pesquisador puro, porque o que se vê é estarmos a braços com um modismo salvador que apregoa a cirurgia como a opção de tratamento e acintosamente a falácia de que fora da operação não há salvação e arrematam que o enfarte ocorrendo seria fatal nos casos não operados.

 

Para nós, a Cirurgia de ponte de safena repetitiva como costuma acontecer, compromete o prestigio da cirurgia geral, competindo agressivamente com a clínica, através de repetidos atos cirúrgicos duas, três até quatro vezes – tendo sido registrado até a incompreensível afirmação de cirurgião norte-americano de que a segunda cirurgia é melhor que a primeira, mas até agora, ninguém se referiu as terceira e quarta cirurgias para refazerem o que não conseguiram antes”.  

 

“No Brasil de hoje os cirurgiões do coração são os chefes ou patrões dos cardiologistas clínicos, transformados em simples caçadores de casos de coronariopatia crônica ou aguda, sintomáticos ou assintomáticos, em atendimento de rotina ou emergência, qualquer que seja a faixa etária, para se submeterem sistematicamente à cinecoronariografia, cintilografia miocárdica e Doppler-ecocardiografia e quando eletivamente escolhidos deverão ser encaminhados para a cirurgia como a opção para os felizardos, porque os que não têm a ventura de serem beneficiados pela cirurgia da moda, serão deixados de lado para tratamento apenas medicamentoso e na maioria das vezes ainda não atualizado e incompleto”.

 

“Não se consegue escrever verdade sobre ponte de safena porque as revistas especializadas estão sob controle dos grupos cirúrgicos e cardiologistas comprometidos e só publicam trabalhos que venham reforçar e abrilhantar o cordão dos safenados. Há algum tempo ouvimos rumores sobre a organização do Clube dos Safenados, mas durou pouco tempo a pretensão que serviria como prova cabal de vitalidade e seria a melhor das maneiras de se apreciar a casuística, a performance e a trajetória de cada sócio”.    

 

“Os pacientes safenados são dignos de pena porque quase sempre foram levados à cirurgia através de coação, constrangimento e medo, impostos pelo médico comprometido com os cirurgiões que desejam safenar toda a humanidade, com a falsa alegação de que desejam salvá-la do tão temido enfarte do miocárdio.

 

Temos observado que somente os acovardados, mal informados ou enganados em sua boa fé submetem-se a essa cirurgia de repetição que, na verdade, não apresenta os resultados largamente apregoados como salvadores e definitivos”.

 

“Seria muito fácil e poder-se-ia conhecer toda a curva evolutiva sobre os resultados desse Modismo cirúrgico, que impera há 28 anos, desde que o Governo que banca a quase totalidade dessa cirurgia, exigisse a prestação de controle anual de tais casos operados”.

 

Certamente que, há muito tempo, já se teria chegado à conclusão de que a cirurgia de ponte de safena é um método fantasioso, de resultados práticos falhos e teria deixado de ser executada por não corresponder a finalidade proposta, principalmente por carecer de repetições freqüentes, como reparação da cirurgia anterior”.

 

“Temos constatado na Cardiologia uma tendência muito fora da realidade e grosseira, sustentada até por preclaros cardiologistas, que se empenham desenfreadamente em quererem transformá-la em Especialidade cirúrgica, bem caracterizada pelo Modismo cirúrgico imposto, que se nos apresenta como a “farra dos safenados”, enganando a muitos e principalmente os incautos que, procurando conhecer sobre seu próprio estado de saúde, chegam aos serviços como os nobres bois que são também escolhidos para a “farra dos bois” e aí inauguram a sua odisséia, passando a caminhar de sofrimento em sofrimento, experimentando repetidos dissabores até a desgraça final.

 

Não podemos assistir a tudo isso sem o nosso posicionamento contrário, como temos feito até agora, denunciando a cegueira e a falta do critério científico de muitos, responsáveis pela desgraça de todos aqueles que representam uma população de humanos desamparados e sofredores, vitimados pela própria ignorância e utilizados por aqueles que sabem que na “farra dos safenados” só quem lucra é o cirurgião de coração e seus cegos seguidores que, no Brasil, vêm dirigindo esse Modismo que é responsável direto pela criação de um exército de nobres cobaias na caminhada de sua via crucis e de martírio em vida!”.

 

Seção Denúncias