Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio

 


 

Fraudes do Coração: Revelando a Maior Enganação da Saúde na História

 

Resenha do livro por Irene Alleger (1)

 

Em um tempo em que os custos dos cuidados com a saúde estão ameaçando colocar a nação na falência, muita pouca atenção tem sido dada a procedimentos e tratamentos que têm falhado em mostrar benefícios e, não de forma inesperada, representando algumas das mais custosas intervenções médicas. Existe tanta falação sobre tratamentos não provados e charlatanismo, visando as práticas médicas alternativas, que as pessoas jamais param para questionar ou investigar a eficácia ou mesmo segurança, dos procedimentos médicos de alta tecnologia.

 

Ainda que as pesquisas mostrem que acima de 80% das cirurgias de ponte de safena e angiografias recomendadas não são necessárias, não se produziu nenhuma mudança na lucrativa metodologia dos cardiologistas. Já que a doença do coração conta com a maior porção dos dólares de nossos cuidados com a saúde, isto é um exemplo perfeito de como interesses particulares manipulam o público e encobrem quaisquer críticas à metodologia, em nome do lucro.

 

No livro “Fraudes do Coração” (2), o Dr. Charles McGee documenta as estatísticas, estudos, e fracassos escondidos que cercam o tratamento da doença do coração, particularmente angiografias e cirurgia de ponte de safena. Embora, atualmente, um terço da população prefira algum cuidado médico alternativo, quando vem o enfarte, as táticas do medo usadas para vender estes procedimentos são quase a prova de bala. Os médicos falam aos assustados pacientes enfartados que eles tem um “fazedor de viúvas”, referindo-se a artéria bloqueada, ou que eles estão vivendo com uma “bomba relógio”. A cirurgia de ponte de safena e a angioplastia são ditas como absolutamente necessárias para que eles consigam permanecerem vivos nos próximos dias. Poucas pessoas nessa situação (usualmente drogadas, também) podem montar um argumento inteligente contra estes “especialistas”.

 

Doutor McGee usa sátira e humor em sua apresentação de um apavorante uso anti-ético da angioplastia por balão que “os cardiologistas invasivos clamam como um estilo de vida dos ricos e famosos”. Ironicamente, os cirurgiões do coração viam, inicialmente, os cardiologistas que usam a angioplastia como inimigos (de sua conta bancária), mas cedo perceberam que existia uma grande torta para todos dividirem. Quanto mais angioplastias eram realizadas, o número de cirurgias de ponte de safena, referidas rotineiramente e afetuosamente como repolho, também cresceram.

 

“Procedimentos cirúrgicos no coração assemelham-se a um buraco sem fundo........se mais médicos começam a dividir a torta, os doutores podem aumentar o tamanho da torta simplesmente pela recomendação de mais procedimentos.” Em 1990 os cardiologistas realizaram cerca de 285.000 angioplastias por balão e cirurgiões do coração racharam 380.000 tórax. “Não é incomum ver pacientes os quais tiveram três ou quatro procedimentos de angioplastia seguidos por um ‘repolho’, todos dentro de 4 a 5 meses e todos fracassando. 

 

Doutor McGee cita os estudos feitos sobre estes procedimentos em detalhe, e é claro que o público tem sido mantido no escuro; em três grandes estudos controlados, a cirurgia de ponte de safena mostrou que a taxa de sobrevida não foi estendida após 11 anos, e que “é improvável que a cirurgia antecipada aumente a expectativa de sobrevida”. Em editorial que acompanhou um dos estudos, Eugene Braunwald, professor de medicina da Escola Médica de Harvard apontou que um número crescente de pacientes estavam sendo operados, não devido a presença de angina intratável, mas por causa da esperança, “largamente sem base em evidências, que a cirurgia de ponte de safena prolongue a vida”. Ele colocou, além disso, que “esse empreendimento rapidamente crescente está desenvolvendo um impulso e clientela próprios, e à medida que o tempo passa, será progressivamente mais difícil e custoso reduzi-lo materialmente....” Ele escreveu “Eu acredito que esta operação deveria estar restrita a pacientes nos quais a terapia médica intensiva falhou, ou nos quais a sobrevida melhorada após a cirurgia tenha sido demonstrada de forma não ambígua, ao invés de uma panacéia para a doença coronária. Estas observações foram feitas em 1977 e seu medo de que esse “empreendimento” se tornaria mais difícil de ser reduzido foi totalmente comprovado na década seguinte.  

 

Embora a angiografia e cirurgia de ponte de safena sejam as que mais atraiam a atenção do público e de custos abusivos no tratamento da doença do coração, o Dr. McGee liquida com a teoria do colesterol, também, outra iniciativa fracassada para tratar a doença do coração. As drogas farmacêuticas para “tratar” o colesterol elevado não apenas falharam em mostrar eficácia, mas são conhecidas por serem perigosas, da mesma forma, à saúde.

 

O livro Fraudes do Coração é uma bem documentada exposição de um desperdício de aproximadamente 35 bilhões de dólares ao ano no tratamento padrão da doença cardíaca, porque estas abordagens para tratar a doença cardíaca não são mostradas como benéficas, ainda que tomem um imenso pedaço dos dólares de cuidados com a saúde. O Dr. McGee admite que o problema básico é político e de interesses comerciais – colocando o lucro adiante do bem-estar do paciente. Tornar-se informado com a ajuda de livros como este, é o primeiro passo na direção da mudança do padrão de cuidados, tanto para os pacientes como para os médicos.          

 

Referências

1.               The $ 35 Billion Boondoggle. Irene Alleger, Townsend Letter for Doctors, April, 1994

2.               Heart Frauds: Uncovering the biggest health scam in history. Charles T. McGee, Medipress 1993; Piccadilly Books 2001.

 

Seção Denúncias