Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio

 


 

A Rentabilidade da Cirurgia de Ponte de Safena e o Conflito de Interesses

 

“O dinheiro da medicina está na cirurgia cardíaca”, disse James Hinton ao repórter Ron Winslow em artigo publicado no Wall Street Journal de 22/06/99*.  O executivo chefe dos serviços de saúde ligados ao Hospital Presbiteriano de Albuquerque, Novo México, afirma ainda que “a cardiologia é inquestionavelmente lucrativa. Isto é o que eles estão indo atrás.”

 

De acordo com o artigo do Wall Street Journal, o custo para tratar corações doentes nos EUA é de 200 bilhões de dólares ao ano, cerca de 20% da verba gasta com cuidados na saúde. Com aproximadamente 15 milhões de americanos sofrendo de doença cardíaca e dezenas de outros milhões com problemas de hipertensão ou colesterol alto, tratar corações se tornou uma indústria.

 

Mais de 1000 hospitais nos EUA oferecem programas completos voltados ao coração. A área cardíaca conta tipicamente com mais de 20% da receita hospitalar e algumas vezes 50% dos lucros. “Corações são os que estão mantendo os hospitais no negócio,” disse o consultor de saúde Jacques Sokolov, de Los Angeles, ao WSJ.

 

Segundo o WSJ os médicos de coração desfrutam dos maiores salários na medicina. Uma média de US$ 253.000,00 para os cardiologistas e de US$ 385.000,00 para os cirurgiões de coração.

 

Da receita do Hospital Presbiteriano relativa ao ano anterior, 47% vieram das operações de cirurgia de ponte de safena.

 

O cardiologista Neal Shadoff, convidado a se associar ao MedCath, rede de hospitais especializados em cardiologia, ficou perturbado com a ênfase dada por eles para a cirurgia cardíaca em detrimento da angioplastia e stents. Ele afirma que o MedCath deixou bastante claro que a cirurgia de ponte de safena é onde se faz dinheiro e que na angioplastia e nos stents é onde se gasta o dinheiro. Ele também disse ao WSJ “A implicação é que fazendo mais cirurgias de ponte de safena maior a receita será.” Se viesse a me tornar um associado do MedCath, ele diz, “Eu ficaria preocupado que isto pudesse alterar como penso tratar o paciente.”

 

Steven Puckett, chefe executivo do MedCath, disse que a companhia conta com o “envolvimento econômico” dos médicos associados para fazê-los mais eficientes e gerar mais lucros. Mas isto levanta uma questão de conflito de interesses coloca o WSJ.

 

O cirurgião do coração Richard L Gerety, associado ao MedCath, admite na reportagem que não existe nenhum participante no mercado corrente de cuidado da saúde que não tenha algum conflito de interesses. “O que torna o hospital ou companhia de seguros com mais direito ao dinheiro do que eu?”, ele pergunta.

 

* Fed-up cardiologists invest in hospital for heart disease, WSJ, 1999

 

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