Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio

 


 

 Médico Brasileiro Cria Cirurgia que Deve Evitar o Transplante Cardíaco

 

Quintiliano H. de Mesquita, Cardiologista

 

"Ventriculectomia Parcial" de Randas Vilela Batista, técnica cirúrgica genial e avançada, de reconstrução ventricular na cardiomegalia com insuficiência cardíaca, é o caminho novo para a restauração funcional do coração gravemente lesado e tido como indicado para o aguardo do transplante cardíaco.

A excepcional reportagem de Marcos Pivetta na Veja (19 de abril de 1995) descobrindo e trazendo ao cenário nacional o criativo cirurgião de coração de Campina Grande do Sul (PR), levou-nos a recordar o momento importante do qual participamos diretamente, quando da introdução da aneurismectomia ventricular praticada por Charles P. Bailey, em abril de 1954, no Hahnemann Hospital de Philadelphia.

Ao acompanharmos o nosso 5º caso de aneurisma ventricular esquerdo pós enfarte miocardico, no qual se instalara o quadro clínico de insuficiência cardíaca congestiva e que se tornaria irredutível e levaria o paciente à morte dentro de poucos meses, levou-nos a consultar em 1º lugar um grande mestre de Cirurgia e Técnica Operatória da Faculdade de Medicina da USP sobre a viabilidade de cirurgia que , a nosso ver, consistiria de pinçamento puro e simples da região aneurismática e retirada do pedaço afetado, seguida por sutura como se faz em um estômago.

Não encontramos ressonância e sustentação para a nossa idéia de se curar assim a insuficiência cardíaca e recuperar o paciente.

Apelamos então para 2 grandes Mestres norte-americanos: Claude S. Beck e Charles P. Bailey. O 1º prontificava-se a realizar um reforço na parede aneurismática, criando como que um "manchão de câmara de ar"; enquanto o 2º, dispunha-se a realizar a aneurismectomia pura e simples como imaginávamos e que foi logo aceita por nós e pelo paciente, por representar uma tentativa real para a correção absoluta da lesão anatômica e daquele estado funcional que seria irreversível, já observado nos casos anteriores.

Assistimos o ato cirúrgico, numa época em que não havia ainda a máquina de circulação extracorpórea, o tórax era aberto e o pulmão entubado era mantido sob controle manual pelo anestesista.

O cirurgião usando uma enorme pinça isola o pedaço aneurismático, recorta-o e nos surpreendeu quando recobriu nossa mão direita com o retalho retirado do ventrículo.

Do controle eletrocardiográfico, durante o ato cirúrgico, com o aparelho registrando o traçado, ainda não havia monitor, não foi notada sequer o aparecimento de extrassistole ventricular durante o pinçamento do aneurisma, retirada do retalho e na sutura da parede ventricular.

O paciente recuperou-se rapidamente e foi suspenso o uso do cardiotônico, pouco tempo depois, porque a função cardíaca havia sido restaurada com a cirurgia de reconstrução do coração.

Por causa do que observamos naquele caso, recebemos com entusiasmo a notícia sobre a "ventriculectomia parcial" criada e praticada por Vilela Batista, como método genial e avançado, porque se destina à reconstrução do ventrículo esquerdo, aumentado e enfraquecido, reduzindo sua área e assim propiciando menor carga e menor esforço, com possível restauração física e funcional; parecendo-nos muito mais vantajoso do que o problemático transplante cardíaco que representa grande ato cirúrgico, de futuro incerto e duvidoso, limitado pela constante luta contra a rejeição; enquanto a "ventriculectomia parcial" simplesmente elimina e corrige o excesso cavitário do ventrículo esquerdo que representa maior carga e condiciona más condições funcionais e encurtamento da sobrevida.

Acreditamos no trabalho original, simples, criativo e genial, tecnicamente avançado para a correção objetiva de excessos cavitarios ventriculares, com reconstrução imediata e restauração funcional progressiva.

Apreciamos a tecnologia "cabocla"de Vilela Batista como um novo caminho para a cirurgia cardíaca, que deve merecer por parte de seus pares um posicionamento científico correto, como o repetir a técnica e avaliar criteriosamente sua importância, principalmente nos casos destinados ao transplante cardíaco.

Saudamos o Dr. Randas Vilela Batista pela notável contribuição e desejamos que seus pares o prestigiem, porque é grande o número de pacientes que carecem realmente dessa nova técnica cirúrgica racional, indicada precisamente na cardiomegalia com insuficiência cardíaca.

Desejamos todo o sucesso ao novo método, principalmente porque se trata de uma original e racional descoberta de médico brasileiro!

Maio, 95

 

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