Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio

 


 

Dr. Quintiliano H. de Mesquita, entrevistado sobre a Teoria Miogênica do Enfarte do Miocárdio

 

 “O tabu quanto ao uso do cardiotônico no enfarte agudo do miocárdio é meramente um preconceito que não corresponde à realidade clínica”.

 

*Entrevista dada em 1999 ao Infarct Combat Project

 

ICP: - Professor Mesquita, o que o levou à Teoria Miogênica e ao cardiotônico como remédio anti-enfarte?

QHM: - A Teoria Miogênica do Enfarte do Miocárdio foi desenvolvida através do método indutivo tradicional tendo como seu ponto de partida a ineficácia dos anticoagulantes na prevenção do enfarte. Ela foi reforçada pelos relatos sucessivos de condições clinicas que causam enfarte e não estão em conformidade com a Teoria Trombogênica de Herrick. A Teoria Miogênica também foi impulsionada pelos achados anátomo-patológicos de grupo dissidente que indica a trombose coronária como conseqüência e não como a causa do enfarte agudo do miocárdio e, acima de tudo, pela literatura cada vez mais crescente sobre coronárias angiograficamente normais ou anastomoses aorto-coronárias  pérvias coincidindo com enfarte agudo do miocárdio. Na prática clínica os achados de coronárias angiograficamente normais ou com estenose, mas pérvias no que corresponde diretamente à área miocardica enfartada, somente aumenta a desconfiança a respeito do conceito original de Herrick. Além disso, o enfarte do miocárdio observado no período peri-operatório da anastomose aorto-coronária, ou em um período prolongado, tem sido muito apropriadamente chamado de necrose miocárdica paradoxal porque acontece em áreas de marcada revascularização e mostrando anastomose pérvia. A recíproca também é verdadeira; a ausência de enfarte é noticiada em locais miocárdicos dependentes de uma artéria com total obstrução aterosclerótica. Esse fato representa a última condição da evolução natural da coronariopatia aterosclerótica, com a instalação da doença miocárdica segmentar progressiva, freqüentemente relatada muito antes do processo de quadro clinico enfartante. De acordo com a Teoria Miogênica, não existe diferença entre a história natural da coronariopatia crônica que termina em um enfarte ou insuficiência cardíaca; a variável tem sido somente a extensão da região de falência miocárdica que é limitada a segmento miocárdico no primeiro caso, e generalizada no segundo caso.            

ICP: - Professor Mesquita, porque os cardiologistas em geral têm medo de usar cardiotônicos no tratamento do enfarte agudo do miocárdio?

QHM: - Estudos farmacológicos experimentais têm sido responsáveis pela contra-indicação absoluta de cardiotônicos no enfarte agudo do miocárdio, como resultado de sua possível ação danosa, com o aumento da contratilidade e de consumo de oxigênio sob condições de um menor fornecimento de oxigênio. A divulgação de tais conceitos gerou um tabu contra o cardiotônico no enfarte agudo. Entretanto, na prática clínica, o uso de cardiotônicos mostra ausência de complicações e uma baixa taxa de mortalidade. São aspectos conflitantes, mas significativos e sólidos porque os resultados terapêuticos consagraram tal prática e deveria despertar os pesquisadores para eles. Um melhor posicionamento do cardiotônico foi registrado no enfarte experimental e na coronariopatia crônica através de estudos críticos, onde nos quais os cardiotônicos mostraram uma ação benéfica com seu efeito caracterizado por um aumento na contratilidade tanto nos segmentos isquêmicos como nos não isquêmicos, sem o aumento do consumo de oxigênio devido a participação de outros mecanismos compensadores. Conseqüentemente, o tabu quanto ao uso do cardiotônico no enfarte agudo do miocárdio é meramente um preconceito que não corresponde à realidade clínica.

 

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