Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio

 


 

Cardiotônico na Coronário-Miocardiopatia Garante Estabilidade Transformando Enfarte em Evitável Acidente de Percurso (1972-2000)

 

Ampliando o tempo de observação (1, 2), Quintiliano H. de Mesquita e Cláudio A. S. Baptista apresentam em novo trabalho (3) uma estatística de 28 anos empregando o cardiotônico na coronário-miocardiopatia estável sintomática ou assintomática, com e sem enfarte prévio, através de um confronto de 3 épocas e 2 rotinas terapêuticas comprovando que ele tem prevenido a angina instável, o enfarte agudo do miocárdio, a insuficiência cardíaca e a morte súbita, passando a serem admitidos como acidentes de percurso com baixos índices de morbi-mortalidade e a garantia de prolongada e produtiva sobrevida.

 

Abaixo reproduzimos o Quadro 6 dessa publicação (3), que mostra  um resumo dos registros e comentários sobre seus resultados com o uso do cardiotônico, no período de 1972-2000:

 

Quadro 6

 

Confronto de 3 épocas e 2 rotinas terapêuticas

 

Casos sem enfarte prévio (SEMP):

Grupo 1 a    – Sem cardiotônico durante 17 anos (1954-71) com os seguintes registros: 154 casos com a seguinte morbidade: Enfarte miocárdico: 5 casos (3,2%); Insuficiência cardiaca: 9 casos (5,8%). Mortalidade: 21 casos (13,6%); com morte súbita em 15 casos (9,7%).

Idade média no óbito: 64 anos.

Grupo 1 b – Com cardiotônico durante 17 anos (1972-89) com os seguintes registros: 684 casos com a seguinte Morbidade: Enfarte miocárdico: 14 casos (2,1%); Insuficiência cardíaca: 35 casos (5,1%). Mortalidade: 54 casos (8%); com Morte súbita em 24 casos (3,6%).

Idade média no óbito: 72 anos 

Grupo 1 c – Com cardiotônico e englobando o grupo 1 b para avaliação durante 28 anos (1972-00) com os seguintes registros: 994 casos com a seguinte Morbidade: Enfarte miocárdico: 14 casos (1,4%); Insuficiência cardíaca: 35 casos (3,6%). Mortalidade: 142 casos (14,2%); com Morte súbita em 71 casos (7,2%)

Idade média no óbito: 76 anos

Casos com enfarte prévio (CEMP):

Grupo 2 a – Sem cardiotônico durante 17 anos (1954-71) com os seguintes registros: 126 casos com a seguinte Morbidade: re-Enfarte miocárdico: 24 casos (19%); Insuficiência cardíaca: 57 casos (45,2%). Mortalidade: 100 casos (79,3%); com Morte súbita em 42 casos (33,8%).

Idade média no óbito: 64 anos

Grupo 2 b – Com cardiotônico durante 17 anos (1972-89) com os seguintes registros: 114 casos com a seguinte Morbidade: re-Enfarte miocárdico: 6 casos (5,2%); Insuficiência cardíaca: 15 casos (13,1%). Mortalidade: 34 casos (29,8%); com Morte súbita em 15 casos (13,1%).

Idade média no óbito: 70 anos

Grupo 2 c – Com cardiotônico e englobando o Grupo 2 b para avaliação durante 28 anos (1972-00) com os seguintes registros: 156 casos com a seguinte Morbidade: re-Enfarte miocárdico: 8 casos (5,1%); Insuficiência cardíaca: 17 casos (10,8%). Mortalidade: 64 casos (41%); com Morte súbita em 32 casos (20,5%).

Idade média no óbito: 72 anos.

Comentários:

Do confronto entre os casos SEMP com e sem cardiotônico os índices de Morbi-Mortalidade mostram-se realmente aceitáveis, mas os tratados com cardiotônico são excepcionalmente melhor definidos; entretanto, os casos CEMP sem o cardiotônico são marcados por índices assustadores e confrontados com os tratados pelo cardiotônico verifica-se a consagração dos nossos conceitos terapêuticos preconizados pela Teoria Miogênica. Além disso, torna-se evidente que a incidência da IC é realmente predominante sobre a do EM."

 

 

De fato, os resultados apresentados pelo Doutores Quintiliano Mesquita e Cláudio Baptista, com o uso de cardiotônicos na coronariopatia, são impressionantes, tanto na redução da mortalidade como do enfarte, insuficiência cardíaca e morte súbita.

Eles representam, no tocante a mortalidade, a seguinte média anual:

- Pacientes sem enfarte prévio: 0,5%

- Pacientes com enfarte prévio: 1,45%

 

Esses dados são corroborados pelo estudo do grupo SPRINT, do Instituto de Pesquisas Cardíacas de Neufeld, Israel (12), que encontrou, em um ano, a reduzida taxa de mortalidade de 2%, em pacientes se recuperando de enfarte do miocárdio e que foram tratados com baixas doses de digoxina.  

 

Para que se tenha uma idéia do que esses números representam citamos abaixo as estatísticas de mortalidade de estudo multicêntrico (4) que mostrou a sobrevida de 3 anos após a cirurgia de ponte de safena e da angioplastia coronária, procedimentos os quais, usados rotineiramente pela medicina atual, podem servir como padrões de comparação. A freqüência de mortalidade foi tabulada para cada procedimento e separada em base anual para pacientes com doença das 2 artérias coronárias e para os pacientes com doença de todas as 3 artérias:

- Em 9.212 pacientes com doença de 2 artérias coronárias e que se submeteram à cirurgia de ponte de safena, a freqüência de mortalidade anual foi de 2,7%. Em 7.405 pacientes com doença de 2 artérias coronárias e que se submeteram a angioplastia coronária a mortalidade anual foi de 2,3%.

- Em 17.857 pacientes com doença de 3 artérias coronárias e que se submeteram à cirurgia de ponte de safena, a freqüência de mortalidade anual foi de 3,3%. Em 1.294 pacientes com doença nas 3 artérias coronárias e que se submeteram à angioplastia coronária a freqüência na mortalidade anual foi de 4,2%.

 

Ainda como comparação apresentamos os resultados de alguns estudos, nos quais os pacientes receberam tratamento médico conservador (sem cardiotônicos) para a coronariopatia. A freqüência de mortalidade nestes estudos foi bem menor do que naqueles vistos com a aplicação da cirurgia de ponte de safena ou angioplastia (4).

 

a) No Instituto do Coração em São Paulo, 150 pacientes (idade média de 57 anos ± 8 anos), que recusaram se submeter à cirurgia de ponte de safena, foram seguidos por um período de 2 - 8 anos. 92% dos pacientes tinham doença em 2 ou três artérias coronárias. A mortalidade anual foi de 0% para a doença de 1 e 2 artérias coronárias e de 1,3% para a doença das 3 artérias coronárias. A incidência geral do enfarte agudo do miocárdio não fatal foi de 8% (5). Estudo recente do Incor envolvendo 203 pacientes tratados medicamente mostrou uma taxa anual de 1.5% na mortalidade geral e de 3% para enfarte do miocárdio não fatal (13).

b) No Lown Cardiovascular Center, ligado a Escola Médica de Harvard, foi feita uma reavaliação em 168 pacientes com idade média de 60 anos (faixa de 36 - 88 anos) os quais tinham sido inicialmente aconselhados a fazerem angiografia coronária (6).  Destes, 134 pacientes (80%) foram julgados em segunda opinião que não requeriam angiografia, portanto tratados medicamente. Os 168 pacientes foram seguidos durante um período médio de 46,5 meses acontecendo 7 óbitos (mortalidade cardíaca anual de 1,1%) e  19 casos de enfarte do miocárdio (freqüência anual de 2,7%). Em estudo anterior (7) o mesmo grupo encontrou, no seguimento de 142 pacientes durante um período médio de 59 meses, uma mortalidade cardíaca anual de 1,4%. No acompanhamento em 203 pacientes consecutivos (181 homens com média de idade de 73 anos), durante um período médio de 41 meses, o grupo do Lown Cardiovascular Center confirmou a baixa mortalidade cardíaca anual de apenas 1,1%, com o uso do tratamento médico conservador (8). Em estudo mais recente envolvendo 693 pacientes o grupo do Lown Cardiovascular Center encontrou em 5 anos uma taxa anual de 1.4% na mortalidade geral e de 2.2% para enfarte do miocárdio não fatal. A mortalidade anual por origem cardíaca foi de apenas 0,8% nesse grupo de pacientes  (14).

c) Em uma comparação de tratamento médico versus angioplastia, 1018 pacientes com doença coronariana estável foram aleatoriamente selecionados para receber a terapia médica ou angioplastia. O risco de óbito ou enfarte foi de 2,3% ao ano para os pacientes que fizeram angioplastia, mas somente de 1,2% ao ano para os pacientes tratados medicamente (9).

d) Estudo comparando os efeitos de diferentes beta-bloqueadores na mortalidade após o enfarte agudo do miocárdio foi realizado em um grupo de 69.338 pacientes. A taxa de mortalidade de 2 agentes selecionados, metoprolol e atenolol foram virtualmente idênticos (mortalidade em 2 anos de 13,5% e 13,4% respectivamente) enquanto os pacientes que tomaram propanolol tiveram um ligeiro aumento na mortalidade (mortalidade em 2 anos de 15,9%) (10). Estudo anterior comparou a mortalidade anual de pacientes diagnosticados com enfarte prévio tomando metoprolol com um grupo de controle tomando placebo. A mortalidade foi de 10,6% (289 pts.) no grupo de metoprolol e de 10,7% (295 pts.) no grupo de placebo. Isto é, não houve redução na mortalidade com o uso de metoprolol nesta pesquisa (11).

 

Bibliografia:

1) Confronto de 2 épocas e 2 rotinas terapêuticas, Capítulo do Livro: Como escapar da ponte de safena e do enfarte do miocárdio só com remédio, Mesquita, QHde: Editora Ícone, 1991.

2) Efeitos do cardiotônico + dilatador coronário na coronário-miocardiopatia crônica estável, com e sem enfarte prévio, a longo prazo, Quintiliano H. de Mesquita, Cláudio A S Baptista, Sóstenes V Kerbrie, Sônia Mendonça Mari, Maria Consuelo B M Grossi e José Monteiro, Ars Cvrandi,setembro de 2002;35:7 Republicado na Internet em 2005.

3) Cardiotônico: insuperável na preservação da estabilidade miocárdica como preventivo das síndromes coronárias agudas e responsável pela prolongada sobrevida - Casuística de 28 anos, Quintiliano H de Mesquita, Cláudio A S Baptista, Ars Cvrandi, maio de 2002;35:3., Republicado na Internet em 2005.

4) A comparison of three-year survival after coronary artery bypass graft surgery and percutaneous transluminal coronary angioplasty, Hannan EL et al, J Am Coll Cardiol 1999;33 (1):63-72

5) Two to Eight year survival rates in patients who refused coronary artery bypass grafting. Hueb W et al; Am J Cardiol 1989 Jan 15; 63 (3): 155-9

6) Results of a second-opinion trial among patients recommended for coronary angiography. Graboys TB et al; JAMA 1992 Nov 11;268(18):2537-40.

7) Prognosis of medically treated patients with coronary artery disease with profound ST-segment depression during exercise testing. Podrif PD et al, NEJM, 1981;305:1111-1116.

8) Exercise performance-based outcomes of medically treated patients with coronary artery disease and profound ST segment depression, Thompson CA et al, J Am Coll Cardiol 2000 Dec;36(7):2140-5.

9) RITA 2 Trial Participants, Coronary angiography versus medical therapy for angina: the Second Randomized Interventional Treatment of Angina (RITA) trial. Lancet 1997; 350:461-468.

10) Comparative effects of three beta blockers (atenolol, metoprolol, and propanolol on survival after acute myocardial infarction. Gottlieb SS and McCarter JJ, Am J Cardiol 2001 April 1;87(7):823-

11) The MIAMI Trial Research Group. Long-term prognosis after early intervention with metoprolol in suspected acute myocardial infarction: experiences from the MIAMI trial. J Intern Med. 1991 Sep; 230:233-8. 

12) Digoxin and increased mortality among patients recovering from acute myocardial infarction: importance of digoxin dose, The SPRINT Study Group, Leor J, Goldbourt U et al,  Cardiovasc Drugs Ther 1995 Oct;9(5):723-9

13) The Medicine, Angioplasty, or Surgery Study (MASS II): A Randomized, Controlled Clinical Trial of three therapeutic strategies for Multivessel Coronary Artery Disease. One-year results. Whady Hueb et al, JAAC May 2004, 43;10:1743-1751

14) Long term outcomes of optimized medical management of outpatients with stable coronary disease. Jabbour S et al, Am J Cardiol. 2004 Feb 1;93(3):294-9

 

Seção Polêmicas