Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio

 


 

Primeiro, Não Agredir! 

 

Howard H. Wayne, conhecido cardiologista de San Diego, EUA e autor do livro "Como Proteger você de seu Médico" (How To Protect your Heart from Your Doctor),  de 1997 participando de discussão pública através do newsgroup sci.med.cardiology em 15/8/99, na Internet, sob o titulo  "Alternativas para a cirurgia cardíaca?" (Alternatives to bypass surgery?), colocou:

 

"Muitos cardiologistas tentam convencer seus pacientes que abrindo uma artéria obstruída com angioplastia ou ultrapassando-a com uma ponte de cirurgia coronária, prevenirá  o enfarte ou morte prematura, e que o tratamento médico através de remédios não é uma opção e não surtirá efeito.

 

Tais decisões são usualmente baseadas unicamente nos resultados de uma angiogafia que mostra a presença de doença de artéria coronária. Infelizmente, nenhum angiografia prévia é usualmente disponível para determinar se qualquer doença coronária achada é nova ou antiga e se ela tem progredido recentemente. Com freqüência a doença de artéria coronária é coincidente, com uma outra razão para a dor no peito do paciente.

 

A maioria dos estudos tem claramente demonstrado que, nem o enfarte nem a morte são prevenidos pela cirurgia de ponte de safena ou angioplastia. Enquanto os sintomas podem ser aliviados em muitos paciente, tal alívio é freqüentemente temporário, e retornam dentro de poucos meses. A eficácia da cirurgia e angioplastia não é apenas supervalorizada como também os resultados de ambas são imprevisíveis. A mortalidade e freqüência de complicações são muito maiores do que o paciente é levado a acreditar e muitos pacientes estão piores depois da cirurgia.

 

A verdade, é que os mais recentes estudos envolvendo agora mais do que 6000 pacientes, têm  mostrado que o tratamento médico conservador é associado com uma mais baixa  morbidade e mortalidade. Em outras palavras,    tratamento médico com remédios modernos é altamente eficaz quando empregado por cardiologista que tenha conhecimento de como usar a medicação. É triste dizer que a maioria não sabe e prescreve um número inadequado de remédios ou também com muito baixa dosagem.

 

Muitos cardiologistas continuam citando estudos do final da década de 1970,  que mostravam a cirurgia de ponte de safena proporcionando alguma proteção aos pacientes com pobre função cardíaca. Infelizmente o tratamento médico daquela época é mal apropriado para os dias de hoje, já que estamos no final do milênio.  Hoje existem muitos remédios disponíveis, e um bocado mais chegando, que tornam o tratamento da doença coronária obstrutiva, muito seguro e altamente eficaz. Quando medicações são usadas em número e dosagens apropriadas o paciente é capaz de viver uma vida normal com o risco de morrer ou de ter um enfarte, apenas um pouco maior do que indivíduos sem doença coronária.  Isto não é apenas a minha experiência, mas a experiência de outros cardiologistas não invasivos que não impelem cada paciente com dor no peito para angiografias e alguma intervenção. Também, deve ser enfatizado que a angioplastia e a cirurgia de ponte de safena NÃO diminuem a velocidade da progressão da doença e de suas conseqüências, mas de fato aceleram sua progressão.  A seguir estão as diretrizes que podem servir de ajuda:

 

1.       Pacientes com doença coronária primária e que não tenham sintomas e tenham uma qualidade aceitável de vida quase nunca necessitam de cirurgia ou angioplastia, não importa quais testes sejam anormais. O mesmo se aplica para aqueles pacientes com  sintomas ocasionais isolados ou com exercícios forçados. Sintomas isolados não são uma indicação para cirurgia. – salvo se esses sintomas interferem com as atividades do dia a dia, e não podem ser adequadamente aliviados com medicação em doses adequadas.

2.      Se o paciente está tendo sintomas, e é achada evidência de doença de artéria coronária, esta doença coronária pode ser coincidente. Em outras palavras pode estar acontecendo outra razão para os sintomas. Existem acima de 50 diferentes razões do porque alguém possa ter dor no peito! Com freqüência muitas semanas são necessárias para se determinar a causa desses sintomas. Por exemplo, uma causa extremamente comum de dor no peito é hipertensão (pressão alta do sangue). Pacientes com hipertensão muitas vezes tem doença coronária coincidente. Entretanto, é a hipertensão que causa a dor no peito e não a doença coronária, porque quando a pressão do sangue é mantida sob controle, a dor no peito desaparece. Isto toma tempo.

3.      O angiograma não irá dizer se a doença coronária encontrada é a causa dos sintomas do paciente. Doença coronária avançada é freqüentemente encontrada no angiograma e o paciente não tem sintomas. Ao contrário, o paciente pode ter freqüente dor no peito mas o angiograma mostra artérias coronárias normais ou quase normais. A questão que tem que ser colocada é: Porque o paciente está tendo dor no peito?

4.      A vasta maioria de pacientes que tem doença coronária irá melhorar dramaticamente sob um adequado programa médico. A razão é que se você dá ao coração um certo tempo,  as condições que aceleram a progressão da doença tais como a hipertensão, fumo e estresse são eliminadas, reduzindo-se o trabalho que o coração tem a fazer, e aumentando-se o fluxo de sangue para o músculo através de medicação, novos vasos sanguíneos crescerão dentro da área onde está o bloqueio. Em outras palavras, o coração irá revascularizar-se por si mesmo sem ajuda do cirurgião.

5.      Enquanto existe uma possibilidade do paciente poder ter um enfarte e morrer em um bom programa médico, na minha experiência, isto é muito mais provável ocorrer com a angioplastia ou a cirurgia de ponte de safena.. Os quadros de mortalidade que cardiologistas e cirurgiões citam em ordem de atrair os pacientes para a sala de operação muitas vezes parecem ter pouco a ver com a realidade. A seguinte  tabela compilada pelo Centro Médico da Duke University na Carolina do Norte deve ser usada para determinar seu verdadeiro risco:

 

A Experiência Nacional do Medicare

 

Mortalidade depois da Angioplastia

 

Mortalidade depois da Ponte de Safena

225.915 pacientes

 

357.885 pacientes

 

Idade

30 dias

1 ano

 

30 dias

1 ano

65-69

2.1%

5.2%

 

4.3%

8.0%

70-74

3.0%

7.3%

 

5.7%

10.9%

75-79

4.6%

10.9%

 

7.4%

14,2%

> 80

7.8%

17.3%

 

10.6%

19.5%

 

 

Conseqüentemente, o tratamento pode ser mais perigoso do que a doença. Se o tratamento médico falha depois de 1-2 meses, então a cirurgia pode sempre ser tentada. Mas, nos pacientes que tenho tratado, isto quase nunca acontece.”

 

Email do autor: hhwayne@heartprotect.com

 

Nota: Tratando-se de reprodução literal do artigo com opinião livre, corajosa e independente, de médico conceituado em sua especialidade, adicionamos apenas um título geral o qual julgamos o mais apropriado para este artigo. - Primeiro, não agredir -  derivado do latim "Primum non nocere",  é importante item do código de ética  médica e parte do juramento a Hipocrates feito pelo médico em sua formação.

 

Veja também

 

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