Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio

 


 

O Coronário e suas Atividades Diárias

 Quintiliano H. de Mesquita, Cardiologista

 

Vejamos agora como o coronário deve proceder frente às diversas situações da vida comum e que merecem ser apreciadas, para esclarecer-se, fortalecer sua mente e obter os necessários subsídios para o confronto com os padrões da normalidade:

 

Alimentaçãonormal, sem o exagero de grandes quantidades, caracterizada por aspectos higiênicos salutares: redução da quantidade de açúcar, massas, macarrão, batatas, doces, gorduras animais e evitando-se o uso diário de frituras. Parcimônia na ingestão de líquidos. Após as refeições, há necessidade e vantagem de se fazer uma pausa ou repouso e quem nos revela sua experiência é o próprio anginoso ou coronário sintomático: “com o estômago vazio posso caminhar quilômetros sem sentir dor, mas com o estômago cheio não agüento 100 metros”. Parar depois das refeições durante 1 hora, como defesa, porque a digestão é um ato fisiológico eminentemente circulatório, representando esforço para o coração e não deve, portanto, somar com qualquer outro esforço  físico desenvolvido nesse período.

 

Álcoolem baixas doses não há nada a opor, mas acima da dose como simples estimulante, ocorre como no fumo a impregnação miocárdica com sofrimento dos segmentos miocárdicos isquêmicos e pode desenvolver efeitos deletérios também sobre a função cardíaca.

 

Carregar peso não é interessante porque o coração facilmente se ressente e acusa a sobrecarga. O coração logo acusa a carga extra que vem ultrapassar a sua tolerância, então o coronário percebe porque surge a dor do peito, pára e é aliviado.

 

Calor ambiente nem sempre é bem aceito pelo coronário, trata-se de uma questão individual de adaptação ao calor. Enquanto o frio é vaso-constrictor e hipertenso, o calor não tem efeito dilatador coronário evidente e nem tampouco faz cair a pressão arterial, no entanto, há coronários que passam pouco confortavelmente com o calor ambiente e paradoxalmente se dão muito bem com o frio ambiente.

 

Emoçõesmerecem informação especial porque só se pode parar os efeitos bioquimicos de uma emoção (descargas de adrenalina e nor-adrenalina) sobre o miocárdio isquêmico, através do Dinitrato ou Trinitrina, por via sublingual, e com alívio imediato. O coronário não deve se submeter a suspense de qualquer natureza inclusive não devem assistir, por exemplo, jogos de futebol ao vivo que o emocionem, somente através de video tape quando for o caso.

 

Exercícios físicos programados –  Não vemos qualquer benefício ou vantagem para os coronários uma vez que a circulação coronária colateral não experimenta qualquer influência do esforço físico por si só para o seu desenvolvimento e intensificação. Assim, a imposição de exercitação física programada, individual ou coletiva, na ausência de circulação coronária colateral e diante de fluxo coronário fixo e imutável poderá ter efeitos danosos isquêmicos e contráteis relativos ao esforço.

 

Ginástica – ajuda a ativação da musculatura, articulações, respiração, circulação periférica e coordenação motora. Deve-se fazer a ginástica individualmente e em termos compatíveis com a sua tolerância.

 

Marchapara quem tem o hábito e gosta, deve ser praticada dentro de sua tolerância e sem cansar-se.

 

Bicicletafixa ou móvel – para quem gosta e deseja praticar, deve exercitar-se dentro de sua tolerância, e limites próprios, sem cansar-se.

 

Esportes –  voleibol, tênis, golfe, natação – podem ser praticados, sem espírito competitivo, dentro da margem de tolerância e o importante é que devem ser praticados com interesse, prazer e disposição.

Não recomendamos a criação de práticas esportivas, apenas concordamos com aqueles que já praticaram e que têm prazer em continuar. O importante é que o coronário não se sinta limitado, mas que exerça uma atividade física normal, sempre dentro dos seus parâmetros de tolerância física. O paciente em atividade física nunca superior a própria tolerância estará agindo com inteligência, sabedoria e prudência, protegendo-se contra a isquemia miocárdica desnecessária.

 

Exoneração intestinal – deve ser diária, sem esforços desnecessários, porque podem desencadear crise dolorosa precordial; daí, aqueles que não têm defecação normal, devem procurar facilitá-la.  

 

Fumo – não é bom para o coração por causa do efeito simpático-mimético (estimulador do nervo simpático, acelerador do coração) e da impregnação miocárdica pelo sangue com níveis elevados de nicotina; isso ocorre com os pacientes fumantes e não fumantes, mas que trabalham e permanecem em atmosfera carregada de fumo.

 

Guiar automóvel o esforço físico não é grande, mas as condições de trânsito, sujeitas a sustos e impactos emocionais bruscos e inesperados, podem desencadear crises dolorosas e arritmias severas, exigindo freqüentemente o uso de dilatador sublingual. O posicionamento psíquico do motorista é sempre de defesa, tensão e responsabilidade. Como passageiro em geral nada há a registrar que possa atingi-lo, a não ser que não confie no motorista e ocorrerá uma transferência de responsabilidade e maior tensão do que a experimentada como motorista.

 

Obesidadedeve ser levada a sério e controlado o peso, ao lado dos desvios metabólicos das gorduras e hidratos de carbono, porque pode contribuir para acelerar o processo aterosclerótico, subir a pressão arterial e agravar permanentemente o desequilíbrio coronária-miocárdio, pelo aumento de carga adicional.

 

Pesadelotrata-se de uma variação do equilíbrio coronária-miocárdio, imposta por mecanismo semelhante ao da simples emoção e podendo produzir crise de angina do peito e o paciente acordar aflito e temeroso, sendo aliviado facilmente pelo dilatador coronário sublingual. É identificado o processo como decorrente de descargas de adrenalina e nor-adrenalina, próprias do pesadelo e das emoções.

 

Prática sexualnão há razão para o coronário evitar o ato sexual, cada qual deve dosar o seu próprio ritmo e sua freqüência, segundo a sua disposição e interesse, de acordo com os seus parâmetros de tolerância coronário-miocárdica, no momento da fase neuro-excitatória que preside o ato sexual, culminando no orgasmo.

Cada um procura nos dilatadores coronários de ação rápida (Dinitrato e Trinitrina) utilizando a droga por via sublingual, antes, durante ou logo após o ato sexual, segundo a experiência e a preferência de cada um; apenas recomenda-se sempre, em caso de dor no peito usar o sublingual. Em quase todos os casos de impotência sexual e neutralização da libido, o mecanismo é psicológico; medo do risco e do sintoma.

O ato sexual não mata os coronários silenciosos, portanto, com muito maior razão, os sintomáticos têm na resposta  dolorosa a indicação da necessidade de defender-se e medicar-se, mas a vida deve continuar.

 

Sono muita gente, normal ou coronário, teme a morte durante o sono e por isso passam a sofrer de insônia. Tem dado resultado o fato de admitir-se o pior e no caso da morte durante o sono, parece-nos constituir-se um privilégio dos justos; assim, acreditamos que a antiga máxima de Dale Carnegie funciona: “Evite preocupações admitindo o pior”.  

         

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