Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio

 


 

Coração Palpitante Assusta Mas Não Mata

 

Quintiliano H. de Mesquita, Cardiologista

 

Há um preconceito universalmente estabelecido de que o coração afetado ou doente encurta a sobrevida. Daí, muita gente ter medo sequer de submeter-se a um exame cardiológico para simples avaliação do seu estado. Quando se pretende fazer esta consulta, o momento do exame representa um estado emocional disfarçado, mas que é reconhecido pelo cardiologista através da pulsação mais rápida e pressão arterial em termos mais altos que o seu normal habitual.

 

Trata-se do efeito moral que precede o exame e determinado pelo suspense do aguardo do veredicto final do cardiologista. Este tem sempre em mente os possíveis efeitos de sua conclusão sobre o estado mental e psíquico do examinando e a angustia que precede a constatação do seu verdadeiro estado físico.

 

A apresentação do paciente ao cardiologista é acompanhada por certas manifestações próprias a cada indivíduo e em função do motivo que o traz a consulta; e, em última análise, corresponde à exaltação do seu próprio instinto de conservação.

 

Quando sem sintomas próprios e por simples curiosidade ou medida de precaução para fins desportivos ou como conseqüência do que vai acontecendo com os outros, chegam quase certos de que o resultado deve ser um coração normal.

 

Aqueles de mais idade e sabedores das surpresas observadas em seu meio social ou profissional, com familiares, amigos e pessoas de destaque que vêm a público, embora assintomáticos já chegam apelando para a sorte e esperançosos mas não muito certos e por isso se apresentam desconfiados quanto à sua própria condição física.

 

Quando sintomáticos, isto é, como portadores de dores torácicas ou no peito, palpitações e cansaço na atividade de sua vida diária, aparecem deprimidos e com recôndita angustia; mas freqüentemente não são reconhecidos como portadores de afecção cardíaca e manifestam-se indisfarçadamente exultantes com o veredicto do cardiologista.

 

No tocante às palpitações, de fato os pacientes chegam preocupados com o seu coração que, partindo do imperceptível funcionamento de todos momentos, passa a se apresentar com “falhas nas batidas”, regulares ou irregulares, como pausas na pulsação, sensação de estremecimento ou oscilação dentro do peito, acompanhadas de estranha sensação de explosão de uma bolha de ar na garganta, com aparecimento mais freqüente em período de repouso, quando deitado e com seu desaparecimento na posição de pé ou em movimento.

 

Referem sobre quantas “falhas no pulso” ocorrem por minuto e que são seguidas muitas vezes por curtos disparos como fenômenos ocasionais e alternantes.

 

Outros referem disparos de início e fim bruscos com duração variável, de alguns segundos a minutos ou mais duradouros, acompanhados de tontura, fraqueza ou mal estar indefinido, mas terminando sempre de maneira abrupta.

 

Surpreendidos pelo inesperado disparo com batimentos regulares ou irregulares, muitas vezes são tomados pela sensação de morte próxima ou de apagamento total e medo; aliviados, no entanto, pela cessação brusca e retorno à normalidade que confunde ainda mais o seu psiquismo.

 

Muitos chegam com a convicção de que são portadores de grave afecção cardíaca porque se apresentam como saídos de uma UTI, devido a um desses disparos e onde permaneceram por 24-48 horas, a despeito da cessação do paroxismo ter se verificado em poucos minutos de administração da medicação instituída.

 

Tal procedimento se nos apresenta como injustificável mas tem sido muito comum nos dias de hoje, internação em PS ou UTI para controle e tratamento de casos que sempre foram tratados no próprio domicilio e até mesmo conduzidos através de simples telefonema.; porque, em verdade, na quase totalidade dos casos, os disparos são facilmente resolvidos e tendem naturalmente para o restabelecimento do ritmo normal até espontaneamente.

 

Tais pacientes devem ser instruídos para poderem debelar sozinhos os acessos vindouros, de maneira prática e conveniente: repouso no momento e a tomada do antiarrítmico eficaz com tranqüilidade e confiança, porque o restabelecimento do ritmo se faz segura e prontamente.

 

Assim, o paciente adquire boa experiência acerca do processo facilmente controlável e a certeza de se conseguir uma solução sem complicações. Freqüentemente cessam os paroxismos sem dar tempo para o início do antiarrítmico.

 

É necessário que se proteja o paciente com informações seguras acerca do mecanismo de tais paroxismos e da necessidade de ser mantida uma convivência corajosa, com conhecimento de causa e segurança na maneira de se dominar sozinho o paroxismo de grande e momentânea excitabilidade cardíaca, motivado por ação de estímulos físicos, químicos ou neurogênicos que requerem apenas a pronta ação de medicamentos eficazes que devem estar à disposição do paciente, com o modelo prescrito pelo médico para combater a arritmia.

 

Retornando dos paroxismos taquicardicos (disparos) aos batimentos ocasionais – “falhas do pulso” – o tratamento é mais simples ainda e objetiva a prevenção dos disparos.

 

A reassegurança dos pacientes é o caminho necessário para a manutenção da tranqüilidade e de uma convivência pacifica. Na grande maioria dos casos tais acontecimentos ocorrem em corações normais, apenas excitáveis por estímulos capazes de provocarem uma resposta alterando o ritmo do coração.

 

Somente o coração gravemente afetado – miocardite aguda ou enfarte agudo do miocárdio – está sujeito a graves arritmias e exige cuidados especiais com monitoramento contínuo para identificação precoce e tratamento específico.

 

No entanto, na fase crônica dessas condições os riscos são reduzidos e os pacientes se apresentam em condições de serem conduzidos para uma convivência pacifica e proveitosa com sobrevida prolongada e útil.

 

A conduta do médico nessas condições é a de dar segurança ao cliente, fornecendo-lhe informações e meios de combater as manifestações responsáveis pela palpitação e assegurando-lhe condições ao necessário equilíbrio psíquico e mental.

 

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