Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio

 


 

Glicosídeos Cardíacos na Prevenção de Derrame

 

Estudo brasileiro confirma os achados dos pesquisadores do  Centro Médico da Universidade de Duke de que glicosídeos cardíacos providenciam neuroproteção na ocorrência de derrame, em estudo de 28 anos que mostrou baixa mortalidade por derrame, em 1150 pacientes tomando esses remédios.

 

Usando uma nova tecnologia pesquisadores do Centro Médico da Universidade de Duke na Carolina do Norte, EUA, mostraram que os remédios chamados glicosídeos cardíacos podem proteger o tecido cerebral de ratos de laboratório contra a falta de irrigação sangüínea, e que as drogas são efetivas se administradas em seis ou mais horas após o início do derrame (acidente vascular cerebral) (1).

 

Para os cientistas, a pesquisa pode ajudar no desenvolvimento de novos tratamentos. Como os medicamentos para o coração já estão em uso, o processo de testes seria agilizado.

 

"Essa descoberta é excitante porque pode levar a intervenções para prevenir ou amenizar o montante do dano sofrido pelo cérebro após o derrame", disse o Dr. Donald C. Lo, diretor do Centro para a Descoberta de Remédios e professor de neurobiologia da Universidade de Duke, além de principal investigador no estudo.

 

Na atualidade, somente uma droga foi aprovada pelo FDA para tratar derrame - encontrando sérias limitações, disse o Dr. Lo. Chamada de ativador do plasminogênio tissular recombinante a droga precisa ser dada nas primeiras 3 horas do início do derrame. Além disso, sendo administrada de forma intravenosa e agindo através da fragmentação dos coágulos sangüíneos, ela não é efetiva contra o derrame hemorrágico, que acontece quando a artéria se rompe. (O FDA é um órgão americano similar a ANVISA brasileira).

 

O Dr. Lo especula que os glicosídeos cardíacos possam exercer seu efeito benéfico durante o derrame em uma forma análoga à doença cardíaca, através da restauração do cálcio a níveis saudáveis no tecido cerebral e desse modo prevenindo a morte das células. O cálcio tem um papel chave regulando a função normal celular, e quaisquer mudanças na sua concentração celular -- tais como aquelas causadas pelo derrame -- podem ser tóxicas  (2).

 

Outro estudo recente com os remédios denominados estatinas concluiu que seu uso está associado a uma redução no risco de derrame mas não a severidade ou mortalidade (3).

 

Relacionado a pesquisa do Centro Médico da Universidade de Duke, estudo de casos feito no Brazil confirma a baixa mortalidade para o derrame, em 1.150 pacientes com doença cardíaca estável tratados durante 28 anos com glicosídeos cardíacos. O estudo teve a autoria de Quintiliano H. de Mesquita e Cláudio A. S. Baptista, sendo publicado no revista médica Ars Cvrandi em 2002 (4).

 

A mortalidade por derrame (isquêmico + hemorrágico) para os pacientes tomando glicosídeos cardíacos durante 28 anos foi de:

  • 994 pacientes sem enfarte prévio: 13 casos (1.3%) = 0.04% por ano.

  • 156 pacientes com enfarte prévio: 7 casos (4.4%) = 0.15% por ano.

Como comparação na mortalidade por derrame, com aqueles tomando glicosídeos cardíacos, podemos usar os dados do estudo HPS, o qual teve uma duração de 5 anos, envolvendo 20.536 pacientes, de idade entre 40-80 anos, com doença cardíaca, outras doenças vasculares ou diabetes. O estudo HPS encontrou uma mortalidade total de 0,9% (0,18% ao ano) em pacientes tomando estatinas e de 1,2% (0,24% ao ano) em pacientes tomando placebo.

 

 O uso permanente de glicosídeos cardíacos (Digitoxina, Digoxina, Acetildigoxina, Lanatosídeo-C, Betametildigoxina ou Proscilaridina-A), em baixas doses terapêuticas diárias - não tóxicas - foi baseado na teoria miogênica do enfarte do miocárdio e teve como seu objetivo a prevenção de síndromes coronárias agudas (6). A mortalidade global para os pacientes sem enfarte do miocárdio prévio foi de 14,2% (0,5% ao ano) enquanto que para os pacientes com enfarte do miocárdio prévio foi de 41% (1.4% ao ano). Os números para mortalidade e morbidade estão descritos na tabela 5 do artigo (4).

 

Estudos recentes mostrando efeitos benéficos de proteção neuro-cerebral através de glicosídeos cardíacos - Atualizado em 28 de outubro de 2009.

1) Low-dose cardiotonic steroids increase sodium-potassium ATPase activity that protects hippocampal slice cultures from experimental ischemia. Oselkin M, Tian D, Bergold PJ. Neurosci Letter. 2009 Oct 9.

2) Digoxin may provide protection against vasospasm in subarachnoid haemorrhage. Vural M, Cosan TE, Ozbek Z et al. Acta Neurochir (Wien). 2009 May 13.

3) Studies on Cerebral Protection of Digoxin against Ischemia/Reperfusion Injury in Mice. Kaur S, Rehni AK, Singh N et al. Yakugaku Zasshi. 2009 Apr;129(4):435- 43.

4) The effects of sodium pump inhibitors on sensory ganglion neurite grow. Pennivalen VA, Lopatina EV et al. Neurosci Behav Physiol. 2009 Mar; 39(3): 301-4

 

Carlos Monteiro

 

Referências:

1. Cardiac glycosides provide neuroprotection against ischemic stroke: Discovery by a brain slice-based compound screening platform, James K. T. Wang, Donald C. Lo et al, Proc Natl Acad Sci U S A. 2006 Jun 22

2. Duke Medical News, Study Spots Potential Stroke Drugs

3. Statin use and sex-specific stroke outcomes in patients with vascular disease, Cheryl D. Bushnell et al, Stroke, 2006; 37:1427

4. Cardiotônico: Insuperável na Preservação da Estabilidade Miocárdica como Preventivo das Síndromes Coronárias Agudas e Responsavel pela Prolongada Sobrevida--Casuística de 28 anos (1972-2000), Mesquita, QHde e Baptista, CAS. Ars Cvrandi. Maio 2002, Volume 35, republicado em  http://www.infarctcombat.org/28anos/digitalicos.html

5. The effects of cholesterol lowering with simvastatin on cause-specific mortality and on cancer incidence in 20,536 high-risk people: a randomized placebo-controlled trial, Heart Protection Study Collaborative Group. BMC Medicine 2005, 3:6

6. Livro Teoria Miogênica do Enfarte Agudo do Miocárdio, Mesquita, QHde http://www.infarctcombat.org/LivroTM/qhm.html

 

 

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