Leite e doença cardiovascular

Instituto de Combate ao Enfarte do Miocárdio

 


 

Leite gordo: Benéficos efeitos na redução de doença cardíaca e derrame!

 

O consumo de leite integral e de outros laticínios com alta gordura, entre eles a manteiga, têm sido considerados por muitos médicos como associados ao risco de doença coronário-miocárdica, devido ao alto conteúdo de gorduras saturadas existentes nesses produtos. Entretanto, muitos estudos a respeito apresentaram resultados divergentes dessa linha de raciocínio.

 

Dr. J. E. Crewe, em 1929, junto com a Mayo Foundation, reportou um excelente e uniforme sucesso  usando leite em estado natural em programas de tratamento para pressão alta, doenças do sistema nervoso, doença cardiovascular, doença renal, tuberculose, etc. Mais tarde esse médico colocou que o único problema do uso de leite cru, para tratar essas doenças, foi de que era demasiadamente simples. Como tal, não atraiu a profissão médica. Somente o leite em estado natural pareceu ser benéfico (1).

 

Em 1991, reportagem da revista News Scientist relatou que o Dr. Peter Elwood, diretor da Unidade de Epidemiologia do Landough Hospital em Penarth, South Glamorgan, em seu estudo de estilo de vida envolvendo 5.000 homens entre as idades de 45 e 59 por um período de 10 anos, que os homens que beberam o leite integral mais gordo e comeram manteiga (ao invés de margarina) tiveram um menor risco de sofrer ataques do coração. De acordo com artigo do Dr. David Williams publicado no mesmo ano, sobre a descoberta de Peter Elwood, entre aqueles que beberam pelo menos meio litro de leite por dia, somente 1% deles sofreu ataques do coração (2, 3).

 

Peter Elwood em trabalho publicado em 2004 relatou os dados de dieta do estudo de Caerphilly, incluindo consumo de leite, no qual seu grupo coletou em um questionário a freqüência semi-quantitativa de alimentos entre 1979-1983, sendo seguido por 20-24 anos em uma amostra de população de 2.512 homens com idade entre 45-49, com doença cardíaca isquêmica e derrame tendo sido identificados. O estudo chegou a conclusão de que seus dados providenciaram a existência de uma evidência convincente de que o consumo de leite não estaria associado com um aumento no risco de doença vascular (4). Ao mesmo tempo e na mesma edição do European Journal of Clinical Nutrition ele teve publicado outro trabalho dizendo que estudos de grupos não providenciaram até hoje uma evidência convincente quanto ao leite ser prejudicial (5).

 

Em 2007, Peter Elwood e seu grupo publicaram mais um trabalho concluindo que o consumo de leite e de outros produtos leiteiros está associada com uma prevalência marcantemente reduzida de síndrome metabólica, e esses itens, portanto, se ajustariam bem dentro de um padrão saudável de alimentação (6).

 

Mais recentemente, em 2009, uma pesquisa realizada pelas Universidades de Reading, Cardiff e Bristol descobriu, revisando a evidência de 324 estudos publicados, que o consumo de leite pode reduzir as chances de morrer de doenças, tais como doença coronário-miocárdica e acidente vascular cerebral, em 15-20% (7).

 

É interessante notar que componentes endógenos do tipo digitálicos (DLCs), similar aos cardiotônicos usados no tratamento de doença cardíaca, foram encontrados em tecidos e fluidos corporais de animais e humanos com aumentada concentração no liquido amniotico, cordão umbelical, soro e urina de mulheres grávidas e neonatos, saliva de mulheres grávidas, e no leite ou colostro coletado de mulheres durante a amamentação em diferentes dias após o parto.

 

De acordo com artigo publicado em 1992, DLCs poderiam ser secretados, ou concentrados no leite humano no sentido de providenciar as crianças com uma contribuição exógena de fatores do tipo digital para repor a produção endógena  a qual tende a decrescer após as primeiras semanas de vida extra-uterina. Os autores colocaram que estudos adicionais seriam necessários antes das ações fisiológicas nas crianças serem atribuídas aos DLCs no leite humano (8).

 

Certamente existem outros mecanismos que poderiam explicar os benefícios do leite gordo na prevenção das doenças. Entretanto, pensamos que a aumentada concentração de DLCs no leite se ajusta perfeitamente a nossa postulação de que uma insuficiente produção de DLCs endógenos, para atender a demanda em algumas condições médicas, como a doença coronário-miocárdica, pode ser resolvida através do uso de glicosídeos cardíacos em baixas dosagens, como um suplemento. Isto é confirmado através de estudos clínicos usando glicosídeos cardíacos na prevenção de síndromes coronárias agudas (9).

 

Alguns outros benefícios do leite gordo na aterosclerose:

O leite gordo não tem efeitos negativos sobre a esclerose, ao contrário, ele previne doenças do sistema cardiovascular, porque contêm diversos componentes bioativos (9), que:

a) limitam a síntese do colesterol no fígado e triglicérides (cadeia curta de ácidos graxos saturados, ácidos graxos poliinsaturados Ômega-3, ácido oléico;

b) intensificam a estrificação e metabolismo do colesterol (fosfolípidos, ácido oléico e ácidos graxos poliinsaturados Ômega-6 e Ômega-3, em proporções ótimas);

c) previnem oxidação do colesterol (ácido linoléico conjugado, alfa tocoferol, coenzima Q-10, vitaminas A e D3 e fosfolipídios);

d) reduzem o nível do colesterol LDL no plasma sangüíneo ácidos linoléicos Ômega-3, ácido linoléico W-6, ácido oléico);

 

Além disso, os ácidos graxos da série n-3 (ou ômega-3), através de sua capacidade de reduzir um elevado ácido láctico no sangue (11), e  o ácido butírico (GABA), que tem efeito inibidor sobre o sistema nervoso simpático (12) podem, possivelmente, reduzir a progressão de aterosclerose coronária, segundo os conceitos da teoria da acidez na aterosclerose  (9)

 

Como Peter Elwood e seu grupo disseram recentemente: "Uma avaliação baseada sobre um simples fator para a doença pode, no entanto, ser enganosa. Ao mesmo tempo que afeta os marcadores de lipídeos da doença cardíaca, o consumo de leite e de seus derivados (queijo, manteiga) está associado com um aumento no nível de lipoproteina de alta densidade do colesterol e com a redução na pressão sangüínea e, além disso, o leite e alimentos leiteiros provavelmente têm efeitos sobre muitos outros mecanismos biológicos e processos da doença" (13)  

 

Carlos Monteiro

Blog: http://www.teoriadaacidez.blogspot.com

 

P. S.: A Weston A. Price Foundation está desenvolvendo uma campanha em apoio ao leite rico em gorduras. Veja diversos artigos em http://www.realmilk.com/sitemap.html.

 

Referências:

1) Real Milk Cures Many Diseases, Dr. J. R. Crewe, Certified Milk Magazine, January 1929, em http://www.realmilk.com/milkcure.html

2) Milk Decreases Heart Attacks? Dr. David Williams, Alternatives Newsletter, 1991 em  http://www.realmilk.com/heart_disease.html 

3) Fuss over fat leads to rethink on publicity, issue 1759 of News Scientist magazine, 09 March 1991, page 17. Texto integral em  http://www.newscientist.com/article/mg12917592.800-fuss-over-fat-leads-to-rethink-on-publicity-.html 

4) Milk drinking, ischaemic heart disease and ischaemic stroke I. Evidence from the Caerphilly cohort. Elwood PC, Pickering JE, Hughes J, Fehily AM, Ness AR, Eur J Clin Nutr. 2004 May;58(5):711-7.

5) Milk drinking, ischaemic heart disease and ischaemic stroke II. Evidence from cohort studies. Elwood PC, Pickering JE, Hughes J, Fehily AM, Ness AR. Eur J Clin Nutr. 2004 May;58(5):718-24.

6) Milk and dairy consumption, diabetes and the metabolic syndrome: the Caerphilly prospective study, Elwood PC, Pickering JE, Hughes J, Fehily AM, J Epidemiol Community Health. 2007 Aug;61(8):695-8. Texto integral gratuito em http://jech.bmj.com/cgi/reprint/61/8/695.pdf

7. The survival advantage of milk and dairy consumption: an overview of evidence from cohort studies of vascular diseases, diabetes and cancer. Elwood et al . Journal of the American College of Nutrition. 2009 V27, N6, &23S-734S em http://www.jacn.org/cgi/content/abstract/27/6/723S

8) Endogenous Digitalis-Like Factors in Human Milk, Aldo Clerico, Anna Pad, Maria Grazia Del Chicca, Pascal Biver,’ and Ottavio Giampietro, Clin Chem 38/4, 504-506 (1992). Texto integral gratuito em http://www.clinchem.org/cgi/reprint/38/4/504.pdf

9) Carlos ETB Monteiro, Ambiente ácido evocado por estresse crônico: Um novo mecanismo para explicar aterogênese. Carlos ETB Monteiro. Disponível no Infarct Combat Project, Janeiro 28, 2008 em http://www.infarctcombat.org/AcidityTheory-p.pdf

10) Atherogenic properties of milk fat: facts or myths?, Cichosz G. Przegl Lek 2007; 64 Suppl 4:32-4

11) Ogilve GK, Fettman MJ et al. Effect of fish oil, arginine, and doxorubicin chemotherapy on remission and survival time for dogs with lymphoma: A double-blind, randomized placebo-controlled study, Cancer; 2000, 88: 1016-28.

12) Hayakawa K et al. Effect of a gamma-aminobutyric acid enriched dairy product on the blood pressure of spontaneously hypertensive and normotensive Wistar-Kyoto rats. Br. J. Nutr 2004; 92:411-417

13. Peter Elwood et al. The consumption of milk and dairy foods and the incidence of vascular disease and diabetes: An overview of the evidence. Lipids. 2010 Oct;45(10):925-39. Texto integral gratuito em http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2950929/?tool=pubmed

 

 

Última atualização: 2010

 

Veja também

 

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